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PRECISAMOS FALAR SOBRE VULNERABILIDADE (E SOBRE O QUANTO VOCÊ TEM CONTRIBUÍDO PARA QUE AS PESSOAS NÃO SEJAM AUTÊNTICAS)

“Escolher amar e viver com todo o coração é um ato de desafio. Você vai confundir, irritar e aterrorizar muita gente, incluindo você mesmo. Um minuto você vai rezar para que a transformação pare, e outro você vai rezar para que nunca acabe. Você também vai se perguntar como é possível sentir tanta coragem e tanto medo ao mesmo tempo. Pelo menos é assim que me sinto a maior parte do tempo… corajosa, temerosa e muito, muito viva” (Brené Brown, em A Arte da Imperfeição).

Abraçar as nossas vulnerabilidades em um mundo editado e photoshopado para esconder ou disfarçar aquilo que, de acordo com o senso comum, não deve ser revelado – por ser feio, inadequado, desprezível ou digno de vergonha – não é tarefa das mais simples. Muito pelo contrário. A cada dia me convenço mais de que revelar-se imperfeito num mundo que parece te cobrar a perfeição o tempo todo, assumir que comete erros, que precisa de ajuda, que não dá conta de tudo, que já pensou em desistir, que tem defeitos, vergonhas, medos e pensamentos não tão bons assim sobre si mesmo e sobre os outros, ao contrário do que possa parecer, não é sinal de fraqueza, mas um verdadeiro ato de coragem.

É preciso ser muito corajoso para se lançar na vida sem ter certezas absolutas ou garantias do que virá. Para expor os seus sentimentos ou topar ser o primeiro a desafiar a regra, seguir por outros caminhos, mudar de opinião, fazer alguma coisa pela primeira vez, dizer não quando tudo o que se espera de você é um sim, desistir de algo que já não faz mais sentido, começar de novo, abrir mão do que a maioria jamais abriria, optar por uma forma completamente diferente de viver e de fazer as suas coisas, chorar de vez em quando, isolar-se de vez em quando, desconectar-se do mundo online de vez em quando, não querer o que a maioria quer, não fazer o que a maioria faz, não pensar como a maioria pensa e assumir essa escolha, mesmo correndo um risco danado de se machucar, de ser julgado, de ser criticado, de cair no ridículo e de vestir todos esses rótulos que tanto condenamos quando somos nós os rotulados, mas que não hesitamos em colocar no outro, o tempo todo, às vezes sem perceber.

Desde o momento em que acordamos até o instante em que vamos dormir, somos bombardeados por uma série de expectativas e mensagens sobre todas as áreas da nossa vida, já reparou? Como temos que viver, como deve ser a nossa aparência, o nosso peso, a decoração da nossa casa, qual é o carro que temos que dirigir, qual é a roupa que temos que vestir, qual é a frequência que temos que ter relações sexuais com o nosso parceiro, como deve ser o nosso parceiro, como devemos criar os nossos filhos, que tipo de parto temos que ter, o que devemos comer, quantas horas por noite temos que dormir, com o que temos que trabalhar, como temos que trabalhar, quanto de dinheiro temos que ganhar, quanto de dinheiro temos que gastar… E o ciclo não para.  E por mais que todas essas mensagens e pressões e coisas que tem-que-se-feitas-de-qualquer-maneira-porque-é-assim-mesmo-que-tem-que-ser gerem uma angústia muito grande em cada um de nós, cada um de nós também se alimenta e contribui para que a roda gire dessa maneira, ao apontar o dedo na cara do outro e atirar no vizinho a tal pedra de quem não tem nenhum pecado, quando os próprios olhos ardem e o próprio teto também é de vidro.

Temos um medo enorme de assumir as nossas próprias vulnerabilidades porque, lá no fundo, sabemos o quanto podemos ser cruéis e julgadores com as vulnerabilidades dos outros, por mais que levantemos a bandeira de que precisamos, sim, abandonar as tais máscaras sociais e sermos nós mesmos. É aquela velha história: você insiste para que alguém se abra e fale dos seus medos, dores e vergonhas, você levanta a bandeira do “seja autêntico, seja você mesmo”, mas, quando a pessoa faz isso, quando ela resolve assumir o risco de se colocar vulnerável e se expor de alguma maneira, você mesmo se assusta, você mesmo critica, você mesmo impõe questionamentos do tipo: “O que deu em você? Não estou te reconhecendo mais! Ficou louco?”.

Condenamos julgamentos e críticas, mas, se alguém foge à regra do que é considerado “normal” e “aceitável”, lá estamos nós, cheios de opiniões não tão boas assim sobre os comportamentos do outro. Se você está acima do peso e usa minissaia, “perdeu a noção de ridículo”, “faltou bom senso”. O mesmo acontece se você é mais velha e quer se vestir como der na telha ou se relacionar com quem você quiser: “Ele é muito para ela”, “Quem ela pensa que é?”, “Que coisa mais ridícula”. Se o homem chora e assume o risco de pedir ajuda, é fraco, “maricas”, vulnerável demais.

Consegue perceber?

Quando você critica alguém justamente porque essa pessoa está abraçando suas próprias vulnerabilidades e sendo ela mesma – por mais que ela corra o risco de se machucar – você está se machucando também. Porque o outro é o nosso espelho, o que significa que o que tanto você aponta no outro é o que mais você precisa trabalhar em você.  Mesmo que não perceba, ao julgar e criticar a autenticidade e a liberdade de alguém, você está tirando de você mesmo o direito de ser livre e autêntico. Quando você diz que Fulano é muito para a Ciclana, levando em conta exclusivamente padrões de beleza, status, idade e tudo relacionado ao ter, não ao ser, você está contribuindo para a manutenção do mundo de aparências que tanto critica. Quando você julga alguém pela roupa que veste, pela comida que come, pela música que escuta e pelo que quer que seja que fuja do tal padrão de “bonito-bem-sucedido-correto-aceitável-é-assim-que-tem-que-ser”, você também está contribuindo para a manutenção desse mundo de aparências. Quando você vê um homem chorando ou se colocando vulnerável ao expor os seus medos, vergonhas e fraquezas e você se sente extremamente desconfortável com isso, ao partir do pressuposto de que ele teria que ser mais forte e “mais homem”, você também está dando o seu sim para um mundo que te julga, te critica e te pressiona o tempo todo. Quando você critica uma mãe porque ela voltou a trabalhar, ou porque ela optou por ficar em casa, ou porque ela cria os filhos de uma forma diferente da sua, você também está dizendo sim para críticas e julgamentos das outras pessoas quando for você o personagem que estiver na roda.

É isso.

Abraçar as nossas vulnerabilidades implica em ter muita coragem, sim. Coragem para lidar com o que vão falar e pensar sobre você, coragem para ser imperfeito num mundo que cultua a perfeição, coragem para dançar num ritmo diferente da música e correr o risco de ser ridicularizado por isso, principalmente por quem às vezes nem entra na pista, porque tem vergonha de dançar.

Mais importante até do que abraçar as suas próprias vulnerabilidades nesse mundo, talvez seja o abraçar sincero da vulnerabilidade dos outros também, porque os outros também são você.

Como é libertador quando, ao assumirmos as nossas fraquezas, os nossos medos, as nossas vergonhas, os nossos defeitos, o nosso lado escuro, feio, cheio de cicatrizes e feridas que ainda precisam cicatrizar, percebemos que inspiramos outras pessoas a fazerem o mesmo, porque não somos os únicos, porque não estamos sozinhos.

Por quantas vezes, principalmente numa fase em que eu não tinha a menor ideia do que queria da vida e, depois, quando comecei a trabalhar como coach e atender pessoas em alguma situação de vulnerabilidade – igual ou totalmente diferente dessa –, me questionei e ouvi questionamentos do tipo: será que sou o único que está se sentindo perdido? Será que eu sou o único que não estou feliz vivendo dessa forma? Será que sou o único que queria dizer não, quando disse sim? Será que sou o único que não concorda com o que foi dito? Que não concorda que as coisas têm que ser assim? Será que eu sou o único que está sentindo muito medo, quando todos os outros parecem tão seguros e confiantes do que estão fazendo? Será que eu sou o único que não entendeu o que foi dito, exatamente porque ninguém perguntou nada? Será que eu sou o único que não se sente capaz ou bom o suficiente para fazer coisas importantes na vida? Será que eu sou o único que já pensou em desistir porque a coisa toda estava difícil demais? Será que eu sou a única que não se sente uma boa mãe e que se culpa por uma série de questões relacionadas à maternidade? Será que eu sou a única que me sinto feia e velha demais às vezes? Será que eu sou o único homem que tem vontade de chorar e pedir ajuda? Será que eu sou a única mulher que não quer ter filhos ou não gosta de crianças? Será que eu sou a única a querer casar, cuidar dos filhos e ser dona de casa? Será que eu sou o único homem que prefere fazer tarefas domésticas do que ter um cargo alto em alguma empresa bambambam por aí?

Não, você não é.

E permitir que os outros também não sejam é gerar empatia, praticar compaixão, escolher amor.

O quanto você tem contribuído para a manutenção de um mundo de aparências que você detesta? O quanto você tem tolhido a liberdade de alguém, quando você mesmo gostaria de que respeitassem mais a sua? O quanto você tem abraçado as suas vulnerabilidades e assumido o risco de ser imperfeito, autêntico e verdadeiro quando a regra parece ser a de fingir que está tudo bem quando por dentro você sente que está morrendo aos pouquinhos?

Só é possível oferecer ao outro aquilo que nos transborda. E só tem sentido falar em liberdade quando os braços que se estendem para um abraço se transformam num laço, não num nó.

❤️ SOBRE A AUTORA

Personal & Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching, formação certificada internacionalmente pelo BCI (Behavioral Coaching Institute). Escritora criadora do blog de crônicas Cookies and Words e autora dos e-books “O Caderno de Ágape” (romance) e “Transformação – dez razões para abraçar a vulnerabilidade” (desenvolvimento humano). saiba mais…

Para conhecer mais sobre o trabalho da Ana Paula acesse o site: http://www.anapaularamos.com

***Eu sou simplesmente apaixonada no trabalho da Ana Paula Ramos e claro que eu pedi autorização para compartilhar seus textos aqui no blog. Os textos da Ana são fontes de inspiração e reflexão, foi por este motivo que achei válido demais trazer a beleza do trabalho dela para esse espaço cheio de gratidão e amor. Quer saber mais sobre a Ana?!? Dêem uma olhadinha no link de apresentação e conheça o trabalho maravilhoso que ela faz. Ana GRATIDÃO, por permitir que eu compartilhe seu trabalho aqui. Sucesso, você merece tudo de lindo! 

Esse é um dos textos que mais sou apaixonada, cada vez que leio penso o quanto a Ana consegue ler tudo aquilo que sinto. Espero que o trabalho dela também possa fazer com que você reflita e traga algo de bom para o seu dia a dia, assim como eu faço com os meus.

Muito obrigada, fiquem com Deus e até mais.

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